Milhares de vezes fui o beijo iludido.
Milhares de vezes desiludi o amor...
Não fui judas,
fui amante da minha tez!
Comi a maçã do paraíso
e me despi posando nua pra lua
em tempestade!
Fui medusa, musa, oferenda de várias tendas,
e nenhum anjo cercou enfim!
Só a cara mal feita, o homem sujeito e,
Lúcifer sorrindo pra mim!
Já criei minha foice,
fingi ser a morte,
e não sobrevivi no Edem.
Já fui apontada,
amarrada,
humilhada,
das mãos que me sangraram pena...
das mãos que me sangraram pena...
Também já fui santa,
beatificada,
canonizada,
dentre os corpos de Sodoma e Gomorra.
Envenenaram minha alma,
vestiram-me Dalila,
pintaram-me Eva,
pintaram-me Eva,
e eu nem fui Madalena dos meus amores.
Sou apenas o baú dos ocultos;
Sou a voz que os assassinam;
Sou as palavras que transpassa
o amor.
Gastando minha sola da língua
alheia, seguindo descalça
no chão da poesia.
Só assim me darei nome,
e enfim, me vestirei sozinha.
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