31 de mar. de 2012

Soturno


Alma de porcelana
que não faz nenhum escárnio
do amor lapidado,
não se atira à lama!


Quando ignorada,
sai fogo pela torneira
em pleno outono onde
as folhas secas retratam solidão...


Ressalto, meu amigo,
que coração ferido
é amigo da dor, e a dor
é pedra rasgada!


Pele alvacenta
sem sentir gosto de sol
por conta da garrafa de tequila
que estende-se vazia no chão da sala.


Prostrado,
paralisado,
perdido.
O coração bate sem fazer sentido.


E o que convém é
cavar o ermo sem riscar
nomes no vazio...



Menininho


No barro do beco,
dois pés descalços
de um menino sujeito
a sorrir sem jeito e sem nada...

Aquela criança corre
da casa rachada,
da fonte sem água,
do piso quebrado pra quebrar galhos por ai...

Aquela criança de nome e sobrenome,
vem do ventre cansado.
Poeira,
sujeira,
olhar calejado,
estômago desesperado!

E no beco do barro molhado
o sol despede-se
depois de tomar caldo de cana
e adoçar o rosto do menininho sem sapatos...





27 de mar. de 2012

Ferrugem



O porto é o remanso do corpo,
e as ondas é o que me possui.
A cor que me pinta vai ressaltando
a tinta que corre na minha garganta.


Embebedo meus olhos
lânguidos e espertos de tanto
desejo que o meu útero
desperta, e que em mim sobejo...


Beijo a garrafa com os
lábios suados de vinho,
e deixo escorrer uma gota
pelas mãos até pingar minha ferrugem!


Fico tresloucada pela
gota gelada que afeta meu espinho,
e sinto cheiro de pétalas de flor
tatuando ninho...


Minha ferrugem não tem dor,
tem só ardor de estar sozinho.
Me lazera devagar, e me
queima sem ninguém por perto!


Essa coisa de estar só, não é o que anseio.
É que sou essa solidão
como a tinta que percorre os meus seios
nas noites em que devoro poesias!