25 de fev. de 2012

Tarde em Paris



Minhas mãos na seda
sede a dança em mesa.
Pego o borgonhês e
seco o vinho que acompanha a massa.


Duas taças, três taças,
e meu decote de freguesa
pra dois moços em outra mesa.
Vez outra uma garfada.


Meu ufanismo perigoso
encorpora meu pouso dos
dedos sobre os  óculos.
E vejo turvo... será o álcool?


Cruzo as pernas, peço um café,
retiram os pratos, e me
desenho fina, num elegante
restaurante da esquina.


Cafeína, é nada!
Joguei o euro,
vesti meu casaco francês,
e ignorei a dor nos pés.


Na saída, procurei meu cigarro,
adiantei com um pigarro,
dei dois tragos e retirei meus
sapatos para dançar na neve.


Insânia, morfina, heroína?
Que nada!
é coisa fina, pois sou menina...
E só me deram um mês de vida.



18 de fev. de 2012

Cerrei olhos, serrei a endoderme.



Devo meus passos no ato
do alto pra pousar meu
pouso e repousar sorrindo
ao ver de longe você sumindo...


    Tua presença pesava meu corpo,
    corroía meu osso,
    chorava meu pulso.
    E o impulso era nada!


    Eu amava um ser vestido
    de carne, esculpido de dor.
    Se era amor,
    que amor arde?


     Suei meu sangue nas veias
     numa noite de inverno
     com um simples hidróxido de
     ferro, e serrei minha endoderme.


     Quem disse que doi como o amor?
     Doeu a dor de rasgar a epiderme,
     e eu não sentia dor maior
      que já me tinha.


De quem corre a minha alegria?
Da melancolia, desalento,
misantropia ou esmorecimento?


Fique atento... É tudo destreza
pra golpear a lua, pra lhe tomar
tempo enquanto aqui estou
nua, e chorando sangue  pelos ventos...



A lama na lama



Um copo um prato um garfo...
Na porta da sala apenas um sapato velho,
um lençol, um cobertor e uma almofada.
E na beira da estrada um caminhoneiro.

No espelho uma rachadura.
No porta-retrato com alguém ao lado,
uma teia.

E aquele gato com Correntinha no pescoço,
comendo aquele almoço de dois dias.

Ao lado da mesa um barril.
No calendário da parede,
há dois meses naquele mês de Abril.
Lá fora um frio...

E aquele moço sem sentimento
chegando sempre às três.
Ele entra de surpresa,
fala com sua Duquesa
que toma banho sempre em cima da mesa.

Vai aprontar comida,
enche sua barriga,
e cochila na sua única poltrona sem poeira.

Um copo, um prato, um garfo...
No meio da ladeira vem vindo sem controle,
um homem sem cegueira.

Um ronco na salinha,
um relógio sem bateria,
um estrondo a luz do dia.
E aquele moço,
sem dinheiro e sem pescoço,
foi parar na cozinha.

Um copo, um prato, um garfo...
Continuará ali,
junto aos estilhaços que antes não tinha.